domingo, 24 de outubro de 2010

Rezende, um personagem da vida

Chegou a hora de fazer deste humilde espaço o espaço de um novo personagem. Sim, um personagem conhecido por tantos e que jamais foi lembrado da forma justa como deveria ser lembrado. Escrevo sobre José Herbert de Rezende Filho. Marido, pai, compadre, amigo mais que querido e, notavelmente, companheiro de peladas. Na vida, meus leitores, as atitudes de um homem fazem a diferença entre ser “mais um” e “UM” na humanidade. E digo, sem medo de errar, que o Rezendão é parte desse seleto grupo do UM.

Vou ater-me aqui à parte que mais liga a vida desse piauiense a nós, integrantes da Sociedade Esportiva Canarinho: o futebol. Se o tempo é prova de entrosamento dentro de campo, pouquíssimas pessoas podem ter a honra de dizer que joga ao lado desse lateral há 16 anos. E eu sou parte desses felizardos. Do primeiro jogo, ainda em 1994, para o último jogo, ocorrido no último sábado (23), restaram apenas três: Edinho, Orfeu e eu. Sim meus amigos, 16 anos de muito futebol ao lado do “por mim ninguém passa”.

E o último jogo foi o triunfo para nós, que aguardamos pacientemente quase duas décadas para comemorar com ele, Rezende, um gol numa partida oficial do Canarinho. Já era o segundo tempo e disputávamos o terceiro lugar no campeonato interno do Superior Tribunal Militar. O placar marcava 2 a 0 para nós. No meio do campo, Edinho dominou a bola e eu corri em direção à lateral direita da zaga adversária. Fui lançado. A bola parecia, como sempre, ter sido arremessada com as mãos – tamanha precisão do passe. Corri sem olhar para ninguém quando ouvi um grito: “o goleiro”. Senti uma pancada na cabeça e caí. Fui, literalmente, atropelado pelo arqueiro rival.

A dor foi intensa. Parecia que tinha tomado uma pedrada na cabeça. Foi apenas um soco. Edinho se preparava para cobrar a falta quando o árbitro apontou para a marca do pênalti. No depoimento do Edinho, o goleiro havia me atropelado três metros fora da área. Tudo bem, penalidade máxima. Ninguém mais poderia cobrar que nosso querido Rezendão.

Chamamos nosso líder e entregamos a pelota nas mãos dele. Ele, carinhosamente, colocou a bola na marca branca e tomou distância. Foram menos de 5 segundos para ocorrer o que esperamos por 16 anos. Um chute forte, preciso, no meio do gol. A rede acolheu a bola como uma mãe acolhe o filho após um banho de chuva. A torcida que acompanhava a partida, alguns também aguardavam o momento há anos, não se conteve e começou a gritar pelo nome de Rezende. Fui o primeiro a abraça-lo, depois que saiu pulando feito menino quando ganha sua primeira bola. Um momento mágico de um homem mágico.

Meus amigos, desde o início do pensamento na Grécia Antiga o homem se pergunta de onde veio, para que veio e para onde vai. Sem querer ser ousado, digo que momentos como esse que vivi ao lado desse meu compadre me ajudam a responder parte desses questionamentos. De onde vim e para onde vou ainda são um enigma. Mas para que vim, isso respondo de prontidão. Vim para conhecer esse personagem da vida. Para conviver com essa pessoa e para gritar gol depois de 16 anos disputando campeonatos pelo Distrito Federal e por Goiás. Sem o Rezende, a vida de tantos peladeiros não seria a mesma. E nós, jogadores de fim de semana, devemos a ele tantas peladas, tantas conquistas e tantos sorrisos. Longa vida ao eterno camisa 6 do Canarinho, REZENDE.
Uma das inúmeras peladas comandadas por Rezende

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