Tenho certeza que você já passou por isso. E se não passou, talvez pela sua pouca idade, ainda passará. Chega um momento que tudo parece simplesmente parar. Sim. Parar. Chegamos a um ponto que a tudo questionamos: trabalho, profissão, religião, vida... Será que fiz certo até aqui? Quais as possibilidades daqui para frente? Alguns chamam isso de crise dos 30, dos 35, dos 40... E por aí vai. Eu simplesmente chamo a isso de “busca do autoconhecimento”. E é nessa hora que você prova você mesmo.
Eu pensava estar com a vida encaminhada, como dizem e esperam sempre meus pais. Formado, pós-graduado, empresário com contratos razoáveis, casado com uma bela mulher e bons amigos ao redor. Estava com 36 anos de idade e, o normal naquele momento, era buscar apenas maior conforto para o resto da vida. Tudo parecia “encaminhado”. Mas as coisas mudaram rapidamente. E absurdamente rápidas.
A primeira coisa a desandar foi os contratos que meu sócio e eu tínhamos. Os atrasos repentinos nos pagamentos inviabilizaram outros projetos que tentávamos fazer andar. Demitimos funcionários e nos viramos como dava. A grana ficou bem curta. Em seguida, veio minha separação. Essa, sim, me jogou no chão. Não esperava. Simplesmente aconteceu de uma maneira também rápida. Não desejo isso para ninguém. “Ninguém nunca está preparado para isso, Dengo. E ninguém sai ileso de uma separação”, me disse, à época, um grande amigo e irmão.
A partir daí, os dias já não mais eram vividos, apenas passavam de maneira sem graça. As pessoas perguntavam a todo o momento o que estava acontecendo. Eu evitava esse tipo de conversa, sempre. Deixei de frequentar festas de família, casamentos de amigos e até encontros em barzinhos. Era tudo muito sem graça. Mas, por outro lado, era forte em tentar retomar um rumo. Virei cozinheiro, pintor, faxineiro... Fiz boas novas amizades. Reencontrei antigas amizades. Passei meu aniversário bem longe de casa. Voltei a estudar. Adotei uma nova cachorrinha para fazer companhia ao Zizou. Amélie foi um grande acerto nesse período.
Mesmo assim, as coisas ainda se arrastavam. Então procurei me aventurar. Comecei a correr todo dia. O tempo agora era meu grande desafio. Os 6km deveriam ser vencidos em menos de 30 minutos. Perdi 19kg. Isso foi bom. Depois, fui praticar SUP. Todo fim de semana, por uma hora e meia, a solidão das remadas no Lago Paranoá me ajudavam a meditar e repensar a vida. Em seguida, peguei o skate do meu sobrinho emprestado e retomei essa prática. Caí algumas vezes, mas nada grave. Essas coisas me ajudaram a ocupar o tempo e voltar a ter algum prazer. Mas, mesmo assim, precisava de algo mais. Então, decidi saltar de paraquedas. Sim, loucura e vontade de sentir a vida. Foi incrível e com certeza voltarei a fazer.
Hoje, mais de um ano depois de “startado” todo esse processo, ainda me encontro em busca do eixo que talvez eu nunca tive na vida. Os planos pipocam em minha cabeça. De fazer cursos de paraquedismo e mergulho, até deixar o Brasil por um período. Não sei ao certo o que vem por aí. Mas vou me permitir viver “um dia de cada vez”, sem pressa e sem medos. Talvez seja minha crise dos 37 (hehehe), mas não acredito nisso. Depois de pensar estar com a vida encaminhada, hoje sinto algo muito parecido com o que sentia no momento em que precisava decidir qual curso fazer depois do extinto 2º Grau. Com uma grande diferença. Hoje sou muito mais preparado para encarar os desafios que hão de chegar e também mais maduro para planejar e executar bons planos.
Se os dias continuam passando ou sendo vividos? Ah, ainda não tenho resposta para essa pergunta. Mas o tempo – senhor de tudo que existiu, existe e existirá – me responderá no momento certo. E que assim seja.