quarta-feira, 7 de maio de 2008

Experiência espiritual esportiva

Meus amigos, hoje completa um mês que não posto nada nesse espaço humilde e singelo. Pois bem, devo salientar os motivos que me levaram a “abandonar” meus escritos. Em primeiro lugar, a falta de tempo para parar e apenas escrever. Em segundo, e último lugar, simplesmente a falta de assunto, pois meus dias se resumiram em trabalho.

Mas tudo bem, agora estou na ativa novamente e com alguns episódios engraçados que me aconteceram no Rio de Janeiro, quando fui ver a grande final do Campeonato Carioca. Já que mencionei tal desgraça (o Botafogo perdeu para o Flamengo), melhor começar um isso.

O inferno de Éderson
O dia amanheceu nublado, com pouca possibilidade de sol na Cidade Maravilhosa. Pela fresta da persiana, olhei para o céu e pedi a Deus para que o dia 4 de maio fosse o dia da Estrela Solitária. Minhas orações, devoções e invocações estavam todas voltadas para um único propósito: Botafogo.

Nada de café da manhã. O melhor mesmo foi acordar os amigos e partir rumo ao Maracanã. O relógio marcava 10h40 quando saímos da rua 19 de Fevereiro, no bairro de Botafogo. Antes, porém, resolvemos passar em Ipanema e Copacabana para ver o mar. Decisão que quase nos custou a entrada no maior estádio do mundo. Sem sol, meus pés nem sentiram a areia da praia e muito menos a água salgada e gelada do Atlântico.

Decidimos, então, seguir viagem rumo ao colossal. Saímos às 12h e por volta das 13h descíamos nas proximidades do Maracanã. Veio o inferno. A primeira visão foi assustadora. Milhares, eu disse milhares, de torcedores do Flamengo nos recepcionaram sem muita cortesia. Decisão sábia do Goiaba quando disse para não irmos vestidos com a camisa do Fogão. Era tanto flamenguista que comecei a me sentir mal. Um aperto no coração era o prenúncio de horas ainda piores pela frente.

Era hora de achar um cambista para comprar o ingresso. Durante a semana, as vendas foram feitas em poucas horas e ficamos sem nada. Veio então a segunda visão. Um amigo do Goiaba, que é integrante da Raça Fla, disse que poderia arrumar três ingressos para nós. Andamos até chegar a uma das entradas do estádio. Quando menos percebi, estava no ninho rubro-negro perguntando quem tinha ingresso para vender. Não conseguimos nada.

O sofrimento, segundo a Bíblia, é um dos castigos eternos para as almas condenadas. Pois bem, as pernas começaram a doer quando acabamos de dar a primeira volta no estádio procurando por entradas para o jogo. A dor das pernas só perdia para os pés – castigados por poças de urina nas calçadas.

Durante a primeira volta, me perguntei: onde está a torcida do Botafogo? Encontrei. Em número reduzido, os alvi-negros ocupavam a entrada da rampa do Maracanã. Foi o céu. Alívio que Deus nos proporcionou em meio ao inferno rubro-negro que há mais de uma hora me atormentava. Mas foram poucos minutos até a porta se fechar novamente e o inferno pegar fogo.

Veio então a terceira visão. A pior de todas naquele momento. Um cambista estava apanhando muito de torcedores do Flamengo. Pareciam querer-lhe tomar os ingressos. Desanimador para quem procurava por uma entrada há horas. A polícia interveio e tudo ficou resolvido. Como foram feitas entradas falsificadas, a PM colocou policiais à paisana e todo cambista estava com medo de negociar. Bizarro!

Eu estava me sentindo contrabandista, quando tive a quarta visão. Chegava perto de um senhor que parecia cambista e perguntava baixinho: “Tem ingresso aí?” A resposta era sempre negativa. Ninguém queria se arriscar. Até que uma hora o Goiaba encontrou um cara que poderia ter alguma coisa. Nos chamou e começamos a perseguir o camarada. Onde ele ia a gente ia atrás.

De repente, ele tirou dois ingressos do bolso e começou a negociar com um flamenguista, que falava com outro ao telefone. Foi a deixa. “Eu compro”, gritei ao seu lado. O cara estava cobrando R$ 100 por cada entrada. Precisávamos de três. O cambista me disse que estava negociando com o cara e saiu em direção ao outro flamenguista. O Rogério não perdeu tempo e gritou: “Eu quero os dois, cada um por R$ 100”. O cara parou e quando viu uma nota de R$ 100 e duas de R$ 50 não vacilou. Em poucas palavras ele disse ao flamenguista: “Já estou com o dinheiro”.

Era hora de arrumar outra entrada para o Goiaba. Veio a quinta visão. Um mar de flamenguistas desesperados para comprar um ingresso. Por sorte, não demoramos muito a arrumar outro ingresso. Entramos no estádio faltando apenas 10 minutos para começar a partida.

A sexta visão fez meu coração tremer e clamar a Deus por misericórdia. Entre os 84 mil presentes no Maracanã, creio que 75% eram flamenguistas. Ou seja, se fosse uma guerra era mais ou menos 3 por 1. Mas Deus é amor e no seu infinito amor nos deu mais um momento de refrigério. Gol do Botafogo no primeiro tempo e muita gritaria. Pela primeira vez vi que a minoria pode calar a maioria.

Passado o primeiro tempo veio a sétima e última visão do inferno rubro-negro. Logo no início, o Flamengo empatou. Foram despertados os demônios mais fortes das trevas. Não adiantava mais gritar. Era o mesmo que gritar e nem ouvir sua própria voz. Mais perto do fim da partida, o Flamengo virou e antes que voltasse a marcar eu já estava dentro do ônibus voltando para Botafogo.

Essa foi minha maior experiência espiritual esportiva. Como dizia Nelson Rodrigues: “O brasileiro não existe sem a sua medalhinha de pescoço e, até aí, não se pode negar, todos nós temos lá nossas crenças e mandingas para fazer do nosso time o vencedor de todas as batalhas”.

Mas naquele dia, nenhuma medalhinha de pescoço, nenhuma oração, nenhum santo, nem ninguém, nem Deus foi capaz de conter o Flamengo. Foi então que acordei no dia seguinte como São Dom Bosco, que conta a história, visitou o inferno acompanhado de um anjo e teve sete visões.
Nem Deus foi capaz de fazer a Estrela Solitária brilhar

Um comentário:

smith disse...

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