domingo, 11 de maio de 2008

Conversão ao samba de raiz

“Quem não gosta de samba bom sujeito não é.
É ruim da cabeça ou doente do pé”.
Alcione

Os versos cantados pela eterna Alcione são uma verdade quase que incontestável. Doente da cabeça ou do pé. Mesmo assim ainda estou em dúvida sobre a chamada. No Rio, tudo se transforma em samba. Isso não é novidade para ninguém. Após uma viagem corrida, meu amigo Rogério percebeu o quanto o carioca adora o samba. Definitivamente, ele respirou samba mais de 24 horas seguidas.

Chegamos em Botafogo por volta das 14h. O Goiaba já curtia um DVD show (Rio 88: live in concert), que mostra imagens únicas da Cidade Maravilhosa ao som de samba e bossa nova. Perfeito! Naquele momento, Rogério não imaginou que viveria, talvez, sua maior experiência de vida no seio do samba.

Carioca da Gema: lotado, animado e simplesmente apaixonante

Saímos para almoçar e depois tomar uma cerveja no clube Guanabara. Goiaba foi jogar futebol e nós voltamos para o apartamento. Tudo certo. No início da noite, nos preparamos para uma boa balada. O local escolhido? A Lapa. O bar? Carioca da Gema. E advinham o que toca por lá... samba. Mais que samba, samba de raiz, da melhor qualidade.

Encontramos o Bruno Gomes – amigo do Goiaba – na parada de ônibus e partimos para a Lapa. As brincadeiras com o Rogério começaram ali. Todos diziam: “você já deve estar enjoado de tanto samba” ou “advinha aonde vamos e o que toca lá”. Era uma curtição total.

Até aquele momento o nosso amigo Jonny Bravo não tinha reclamado de nada. No Carioca da Gema funciona assim. As pessoas entram até às 23h. Depois desse horário, quem não entrou não entra mais. O local, um pub muito aconchegante, fica superlotado e qualquer fiscalização fecharia fácil aquele bar.

Ficamos na parte de cima tomando um chope bom. Depois, decidimos descer e aproveitar um pouco a boa música que tocava. Foi uma decisão suspeita. Como o local estava lotado e não havia espaço para caminhar, os garçons passavam empurrando e tirando nossa atenção sempre. Muito ruim. Mas continuamos até às 3h.

Voltamos para Botafogo. Acordamos por volta das 11h e já nos aprontávamos para outro samba. Esse, sem dúvida, mais atraente e mais ‘responsa’ que o da noite anterior na Lapa. Ao meio-dia saímos para pegar o trem na Central do Brasil e bater em Madureira. Tínhamos um único destino: Portela.

Chegamos para uma feijoada animada, cheia de sambistas da velha-guarda da escola e muita gente animada. Ah, não é preciso dizer que o que se tocou das 13h às 20h, quando decidimos ir embora, foi samba. E o Rogério, antes de chegar na quadra, queria voltar para ir até Ipanema pegar sol.

Já no local, Rogério, Goiaba e Gomes começaram a beber aquela gelada. Eu fiquei de fora porque ainda estava com os drinks da Lapa na cabeça. Bola pra frente. Nesse momento, Rogério esqueceu da praia e começou a prestar atenção em algumas passistas da Portela que começavam a animar o samba na quadra.

Só sei de uma única coisa. Quem não animava com samba no início da viagem já estava parecendo um sambista na quadra da Portela. Era um sorriso pra lá, outro pra cá e alguns passos ensaiando um sambinha tímido em meio a multidão. O Rogério parecia mais um carioca no meio de tantos. Tinha esquecido do sol que fazia e só queria dançar.

O samba contagiou a alma Jonny Bravo dele. O topete mexia de acordo com o ritmo que tocava. Quando o puxador do samba-enredo da escola soltou o grito: “Alô família azul e branco. Salve a Portela”.

“Segue os passos do criador. Vai minha águia gerreira.
Leva essa mensagem de amor de Osvaldo Cruz e Madureira”.

A quadra foi abaixo e o Rogério, que teve seu maior intensivão de samba de sua vida, não perdeu tempo e foi com ela. O resumo da ópera é simples. Na volta para Brasília, meu nobre amigo cantava baixinho os versos que decorara em poucos dias de convivência com o samba.

E, talvez por isso, iniciei duvidando dos versos de Alcione. Rogério, camarada que conheço há mais de 25 anos, não é ruim da cabeça e nem do pé, mas mesmo assim não gostava tanto de samba. Agora, depois da Portela, não vejo motivos para não acreditar que sua conversão tenha sido da forma mais tênue possível. Salve, salve o novo sambista.

Vai minha águia guerreira

Um comentário:

Paula Barros disse...

Gosto de samba. Não sei sambar. Amo o Rio e estou louca para voltar.
A programaçaõ foi bem intensa. E as fotos interessantes.
abraços.

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