quarta-feira, 28 de maio de 2008

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Números. Como odiá-los?

Os dias passam ligeiros. No momento em que escrevo tal crônica contabilizo 10.370 dias de vida. Ou 248.880 horas, ou ainda 14.932.800 minutos. Mais precisamente 895.968.000 segundos de “inspira e respira”. Sem falar que o número só aumenta a cada toque no teclado do meu notebook. Números curiosos, diga-se de passagem.

Como jornalista que sou, adoro números. O número deixa sua matéria redonda, ajuda na compreensão do leitor – quando bem usado –, desperta curiosidade e, acima de tudo, são exatos. Porque os números são das ciências exatas. Para quem nunca percebeu, o que gera impacto são as comparações simples feitas no dia-a-dia. Em um incêndio, por exemplo, os bombeiros dizem na maior frieza: “o fogo consumiu 450 hectares”. O que isso significa?

Pois bem, aí é que entra a graça, a mágica e a malícia que só o repórter tem. Falar para a Dona Maria, que está cozinhando em sua casa, que o fogo queimou 450 hectares é complicado. Muitas vezes as pessoas não têm idéia do que se trata. E os números, ahhh os números. Vamos a eles.

Um hectar é igual a 10.000 metros quadrados e equivale a mais um menos um campo de futebol oficial. Se foram queimados 450 hectares, podemos concluir que foram destruídos algo próximo de 450 campos de futebol por um único incêndio. Interessante, não?

Recentemente, convencemos papai de fazer um campinho de futebol na chácara. A medida proposta e aceita – incluindo campo e área de escape – está em 25 X 35. A área total gramada é de 875 metros quadrados. A área do campo é de 600 metros quadrados e equivale a um campo society.

Os números convivem conosco a cada segundo. Sem eles, não poderíamos ter noção de moeda, medidas, espaço e tempo. Não adianta lutar contra eles. É claro que algumas pessoas têm mais facilidade em lidar com números, sejam eles romanos ou arábicos. O que importa é dominá-los.

A origem da vida é medida em bilhares de séculos. Nem cientistas sabem calcular ao certo em quanto tempo o universo teve início. Esses grandes dilemas serão, um dia, decifrados pelos números. Por ora, temos de aprender a lidar com eles na simplicidade do cotidiano. Um dia após o outro, uma pedra depois outra, um algarismo seguido do outro... aonde vamos parar com tudo isso?

Enquanto não decifro sequer o que está ao meu redor, sei que envelheci 15 minutos, mais exatamente 900 segundos fazendo esse texto. Aos que perderam uns 180 segundos lendo essa maravilha, parabéns. Agora, estamos pensando por alguns segundos na mesma coisa: números.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Spam, maldito spam

O problema de ser jornalista é a vasta lista de e-mails que seu e-mail freqüenta. E você recebe milhares de mensagens de ajuda aos meninos da África, clamando por orações para quem te enviou a mensagem, pedindo dinheiro para salvar o menino que nasceu sem cérebro em algum lugar do mundo e, claro, aqueles que esculhambam a opção sexual do Ronaldo Gorduxo.

Além dessa baboseira toda, que você simplesmente não consegue filtrar, ainda tem os chatos, repugnantes e horrendos spam. Nesse exato momento, tenho 147 spam na minha caixa de e-mail do gmail e outros 100 no hotmail. É inacreditável como seu endereço circula pela web sem que você tenha idéia. O que mais impressiona é que a esmagadora maioria é de endereços estrangeiros, de sites que nunca entrei e jamais tinha conhecimento do endereço.

Onde eles capturam nossos e-mails? Fácil. Você tem Orkut, MSN, Google Talk ou qualquer outra coisa parecida? Pois bem, eis aí as tetas distribuidoras do meu, do seu, dos nossos e-mails. Um amigo meu que trabalha com internet há mais de 15 anos tem uma teoria que, definitivamente, começo a acreditar. Segundo Renato Medeiros, a empresa Google é coisa da CIA – a agência de inteligência dos EUA.

Como armazenar tantos dados em um universo on-line? Para que armazenar esses dados? Um novo programa da empresa deve estar disponível em breve. Ele, segundo revistas especializadas, vai oferecer uma memória virtual para que o usuário não tenha que usar o disco rígido do seu computador. Em outras palavras, você poderá armazenar tudo o que hoje fica em seu computador na internet. E que segurança você terá disso? Não sei.

O Orkut, site de relacionamento da Google, é divertido. Tirando as vezes que ele estraga casamentos, noivados e namoros por causa de ciúme doentio do ser humano, é divertido. Mas praticamente tudo o que circula nele é público. Hoje, o público no mundo virtual se confunde com o privado. Nesse blog mesmo posto algumas coisas pessoais que desejo torná-las públicas. Mas em muitos casos isso não é respeitado. A invasão de privacidade, infelizmente, é algo rotineiro na internet.

Quem acha que não tem sua privacidade invadida diga-me, por favor, que nunca recebeu um spam. Claro. O spam é a forma mais clara de se perceber que na rede a privacidade é algo frágil. Se hoje tenho mais de 200 e-mails de pessoas ou empresas que nunca conheci, quer dizer que alguém pegou meus dados em algum lugar sem que eu autorizasse. O spam, meus amigos, é a coisa mais chata e curiosa da web. Pode-se dizer, por exemplo, que funciona como um ser que quer a qualquer custo ser notado nessa imensidão chamada internet.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

De Biriba a Perivaldo

As superstições e tradições são coisas sagradas no futebol. Qual o torcedor que nunca teve lá sua mandinga para ver seu time vitorioso? Pode ser uma camisa, um gesto, um olhar, uma prece... enfim, quem nunca acreditou que o sobrenatural está diretamente relacionado ao mágico e ao real dentro dos gramados?

O meu glorioso Botafogo talvez seja o time mais supersticioso do Brasil. O velho lobo Zagallo, dono de um currículo invejável dentro do alvinegro, tem tara pelo número 13. Nelson Rodrigues certa vez escreveu uma crônica chamada “O Deus de Carlito Rocha” – dirigente do Botafogo na década de 40. Na ocasião, Carlito envocara o "seu deus" para um conflito contra o Fluminense. Resultado: Botafogo 3 x 1 Fluminense.

Ao que parece, o Botafogo está prestes a ganhar um título importante. E por que digo isso? Simplesmente porque sinto firmeza como em 1995, quando a Estrela Solitária levou o título do Brasileirão. E dando continuidade ao sobrenatural, temos hoje o cachorro Perivaldo, da raça beagle. O nobre cãozinho, que nasceu com uma estrela branca bem definida em sua mancha negra no pêlo, é o mais novo amuleto do alvinegro e entrará em campo com os jogadores no Engenhão.

Não é a primeira vez que o Fogão tem lá seu amuleto. Na época de Carlito Rocha, Biriba, vira-lata pertencente ao zagueiro Macaé, foi alçado ao posto e deu muita sorte. Não eram raras as vezes em que o cachorro entrava em campo no meio das partidas para dar sorte à equipe.

E para quem não acredita no sobrenatural, como explicar a estrela solitária nas costas do querido Perivaldo? De Biriba a Perivaldo, o deus do futebol revela-se de formas inusitadas.
Perivaldo assume a vaga de Biriba como amuleto do Botafogo

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Mané Garrincha, alegria do povo

Aos meus cinco leitores, publico hoje uma crônica espetacular do mestre Nelson Rodrigues. Esse texto fez muito sucesso na época de ouro do futebol brasileiro e até hoje desperta grande interessa da comunidade boleira do Brasil.

Garrincha, o anjo de pernas tortas
Nelson Rodrigues

Vocês se lembram de Charles Claplin, em Luzes da Ribalta, fazendo número das pulgas adestradas? Pois bem, Mané deu-nos um alto momento chaplinhano. E o efeito foi uma bomba.

Na primeira bola que recebeu já o povo começou a rir. Aí é que está o milagre. O povo ria antes da jogada, da graça, da pirueta. Ria adivinhando que Garrincha ia fazer a sua grande área como na ópera. Como se sabe só o jogador medíocre faz futebol de primeira. O craque, o virtuoso, o estilista prende a bola. Sim, ele cultiva a bola como uma orquídea de luxo.

Foi uma das jogadas mais histriônicas de toda a vida de Mané. Primeiro pulou por cima da bola. Fez que ia, mas não foi. Pula pra lá, pra cá. Com a delirante agilidade de 58. Lá estava a bola imóvel, impassível, submissa ao gênio. E garrincha só faltou plantar bananeiras.

Esse rapaz da raiz da serra compensou-nos de todas as nossas humilhações pessoais e coletivas. Vocês sabem que do nosso lábio sempre pendeu a baba elásticas e bobina da humildade. De 58 a 62, o mais indigente dos brasileiros pode tecer a sua fantasia de onipotência.

E por tudo isso, as multidões – sem que ninguém pedisse ou sem que ninguém lembrasse –, as massas derrubaram os portões e oferecerem a Mané Garrincha uma festa de amor como não houve igual nunca, assim na terra como no céu.

Garrincha nunca teve marcação e chamava seus adversários de João

domingo, 11 de maio de 2008

Conversão ao samba de raiz

“Quem não gosta de samba bom sujeito não é.
É ruim da cabeça ou doente do pé”.
Alcione

Os versos cantados pela eterna Alcione são uma verdade quase que incontestável. Doente da cabeça ou do pé. Mesmo assim ainda estou em dúvida sobre a chamada. No Rio, tudo se transforma em samba. Isso não é novidade para ninguém. Após uma viagem corrida, meu amigo Rogério percebeu o quanto o carioca adora o samba. Definitivamente, ele respirou samba mais de 24 horas seguidas.

Chegamos em Botafogo por volta das 14h. O Goiaba já curtia um DVD show (Rio 88: live in concert), que mostra imagens únicas da Cidade Maravilhosa ao som de samba e bossa nova. Perfeito! Naquele momento, Rogério não imaginou que viveria, talvez, sua maior experiência de vida no seio do samba.

Carioca da Gema: lotado, animado e simplesmente apaixonante

Saímos para almoçar e depois tomar uma cerveja no clube Guanabara. Goiaba foi jogar futebol e nós voltamos para o apartamento. Tudo certo. No início da noite, nos preparamos para uma boa balada. O local escolhido? A Lapa. O bar? Carioca da Gema. E advinham o que toca por lá... samba. Mais que samba, samba de raiz, da melhor qualidade.

Encontramos o Bruno Gomes – amigo do Goiaba – na parada de ônibus e partimos para a Lapa. As brincadeiras com o Rogério começaram ali. Todos diziam: “você já deve estar enjoado de tanto samba” ou “advinha aonde vamos e o que toca lá”. Era uma curtição total.

Até aquele momento o nosso amigo Jonny Bravo não tinha reclamado de nada. No Carioca da Gema funciona assim. As pessoas entram até às 23h. Depois desse horário, quem não entrou não entra mais. O local, um pub muito aconchegante, fica superlotado e qualquer fiscalização fecharia fácil aquele bar.

Ficamos na parte de cima tomando um chope bom. Depois, decidimos descer e aproveitar um pouco a boa música que tocava. Foi uma decisão suspeita. Como o local estava lotado e não havia espaço para caminhar, os garçons passavam empurrando e tirando nossa atenção sempre. Muito ruim. Mas continuamos até às 3h.

Voltamos para Botafogo. Acordamos por volta das 11h e já nos aprontávamos para outro samba. Esse, sem dúvida, mais atraente e mais ‘responsa’ que o da noite anterior na Lapa. Ao meio-dia saímos para pegar o trem na Central do Brasil e bater em Madureira. Tínhamos um único destino: Portela.

Chegamos para uma feijoada animada, cheia de sambistas da velha-guarda da escola e muita gente animada. Ah, não é preciso dizer que o que se tocou das 13h às 20h, quando decidimos ir embora, foi samba. E o Rogério, antes de chegar na quadra, queria voltar para ir até Ipanema pegar sol.

Já no local, Rogério, Goiaba e Gomes começaram a beber aquela gelada. Eu fiquei de fora porque ainda estava com os drinks da Lapa na cabeça. Bola pra frente. Nesse momento, Rogério esqueceu da praia e começou a prestar atenção em algumas passistas da Portela que começavam a animar o samba na quadra.

Só sei de uma única coisa. Quem não animava com samba no início da viagem já estava parecendo um sambista na quadra da Portela. Era um sorriso pra lá, outro pra cá e alguns passos ensaiando um sambinha tímido em meio a multidão. O Rogério parecia mais um carioca no meio de tantos. Tinha esquecido do sol que fazia e só queria dançar.

O samba contagiou a alma Jonny Bravo dele. O topete mexia de acordo com o ritmo que tocava. Quando o puxador do samba-enredo da escola soltou o grito: “Alô família azul e branco. Salve a Portela”.

“Segue os passos do criador. Vai minha águia gerreira.
Leva essa mensagem de amor de Osvaldo Cruz e Madureira”.

A quadra foi abaixo e o Rogério, que teve seu maior intensivão de samba de sua vida, não perdeu tempo e foi com ela. O resumo da ópera é simples. Na volta para Brasília, meu nobre amigo cantava baixinho os versos que decorara em poucos dias de convivência com o samba.

E, talvez por isso, iniciei duvidando dos versos de Alcione. Rogério, camarada que conheço há mais de 25 anos, não é ruim da cabeça e nem do pé, mas mesmo assim não gostava tanto de samba. Agora, depois da Portela, não vejo motivos para não acreditar que sua conversão tenha sido da forma mais tênue possível. Salve, salve o novo sambista.

Vai minha águia guerreira

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Homenagem ao Flamengo

Ontem foi um dia muito corrido e passou batida a eliminação do Flamengo da Copa Libertadores. Mas, com um dia de atraso, faço minha homenagem aos jogadores (moças) que fizeram o impossível tornar possível e o milagre acontecer. E, como boas bonecas, derramaram lágrimas de arrependimento após abrirem as penas sem pudor para o América do México.
Canta Flamengo: E ninguém cala esse chororô.
E a despedida de Joel, que tanto se comentou como salvador: “Burro! Burro! Burro!”. Eita futebol ingrato. O cara tira o Flamengo da zona de rebaixamento do Brasileirão 2007 e escuta isso agora. Sem comentários.


E continuam as homenagens ao grande treinador Joel "Socana".


Canta urubuzada!

"Tu és time de fanfarrão,
No Maraca envergonhou a nação,
Adeus, Mengo!
Eu nunca vou me esquecer,
Cabañas acabou com você,
Oh meu Mengo"


quarta-feira, 7 de maio de 2008

Experiência espiritual esportiva

Meus amigos, hoje completa um mês que não posto nada nesse espaço humilde e singelo. Pois bem, devo salientar os motivos que me levaram a “abandonar” meus escritos. Em primeiro lugar, a falta de tempo para parar e apenas escrever. Em segundo, e último lugar, simplesmente a falta de assunto, pois meus dias se resumiram em trabalho.

Mas tudo bem, agora estou na ativa novamente e com alguns episódios engraçados que me aconteceram no Rio de Janeiro, quando fui ver a grande final do Campeonato Carioca. Já que mencionei tal desgraça (o Botafogo perdeu para o Flamengo), melhor começar um isso.

O inferno de Éderson
O dia amanheceu nublado, com pouca possibilidade de sol na Cidade Maravilhosa. Pela fresta da persiana, olhei para o céu e pedi a Deus para que o dia 4 de maio fosse o dia da Estrela Solitária. Minhas orações, devoções e invocações estavam todas voltadas para um único propósito: Botafogo.

Nada de café da manhã. O melhor mesmo foi acordar os amigos e partir rumo ao Maracanã. O relógio marcava 10h40 quando saímos da rua 19 de Fevereiro, no bairro de Botafogo. Antes, porém, resolvemos passar em Ipanema e Copacabana para ver o mar. Decisão que quase nos custou a entrada no maior estádio do mundo. Sem sol, meus pés nem sentiram a areia da praia e muito menos a água salgada e gelada do Atlântico.

Decidimos, então, seguir viagem rumo ao colossal. Saímos às 12h e por volta das 13h descíamos nas proximidades do Maracanã. Veio o inferno. A primeira visão foi assustadora. Milhares, eu disse milhares, de torcedores do Flamengo nos recepcionaram sem muita cortesia. Decisão sábia do Goiaba quando disse para não irmos vestidos com a camisa do Fogão. Era tanto flamenguista que comecei a me sentir mal. Um aperto no coração era o prenúncio de horas ainda piores pela frente.

Era hora de achar um cambista para comprar o ingresso. Durante a semana, as vendas foram feitas em poucas horas e ficamos sem nada. Veio então a segunda visão. Um amigo do Goiaba, que é integrante da Raça Fla, disse que poderia arrumar três ingressos para nós. Andamos até chegar a uma das entradas do estádio. Quando menos percebi, estava no ninho rubro-negro perguntando quem tinha ingresso para vender. Não conseguimos nada.

O sofrimento, segundo a Bíblia, é um dos castigos eternos para as almas condenadas. Pois bem, as pernas começaram a doer quando acabamos de dar a primeira volta no estádio procurando por entradas para o jogo. A dor das pernas só perdia para os pés – castigados por poças de urina nas calçadas.

Durante a primeira volta, me perguntei: onde está a torcida do Botafogo? Encontrei. Em número reduzido, os alvi-negros ocupavam a entrada da rampa do Maracanã. Foi o céu. Alívio que Deus nos proporcionou em meio ao inferno rubro-negro que há mais de uma hora me atormentava. Mas foram poucos minutos até a porta se fechar novamente e o inferno pegar fogo.

Veio então a terceira visão. A pior de todas naquele momento. Um cambista estava apanhando muito de torcedores do Flamengo. Pareciam querer-lhe tomar os ingressos. Desanimador para quem procurava por uma entrada há horas. A polícia interveio e tudo ficou resolvido. Como foram feitas entradas falsificadas, a PM colocou policiais à paisana e todo cambista estava com medo de negociar. Bizarro!

Eu estava me sentindo contrabandista, quando tive a quarta visão. Chegava perto de um senhor que parecia cambista e perguntava baixinho: “Tem ingresso aí?” A resposta era sempre negativa. Ninguém queria se arriscar. Até que uma hora o Goiaba encontrou um cara que poderia ter alguma coisa. Nos chamou e começamos a perseguir o camarada. Onde ele ia a gente ia atrás.

De repente, ele tirou dois ingressos do bolso e começou a negociar com um flamenguista, que falava com outro ao telefone. Foi a deixa. “Eu compro”, gritei ao seu lado. O cara estava cobrando R$ 100 por cada entrada. Precisávamos de três. O cambista me disse que estava negociando com o cara e saiu em direção ao outro flamenguista. O Rogério não perdeu tempo e gritou: “Eu quero os dois, cada um por R$ 100”. O cara parou e quando viu uma nota de R$ 100 e duas de R$ 50 não vacilou. Em poucas palavras ele disse ao flamenguista: “Já estou com o dinheiro”.

Era hora de arrumar outra entrada para o Goiaba. Veio a quinta visão. Um mar de flamenguistas desesperados para comprar um ingresso. Por sorte, não demoramos muito a arrumar outro ingresso. Entramos no estádio faltando apenas 10 minutos para começar a partida.

A sexta visão fez meu coração tremer e clamar a Deus por misericórdia. Entre os 84 mil presentes no Maracanã, creio que 75% eram flamenguistas. Ou seja, se fosse uma guerra era mais ou menos 3 por 1. Mas Deus é amor e no seu infinito amor nos deu mais um momento de refrigério. Gol do Botafogo no primeiro tempo e muita gritaria. Pela primeira vez vi que a minoria pode calar a maioria.

Passado o primeiro tempo veio a sétima e última visão do inferno rubro-negro. Logo no início, o Flamengo empatou. Foram despertados os demônios mais fortes das trevas. Não adiantava mais gritar. Era o mesmo que gritar e nem ouvir sua própria voz. Mais perto do fim da partida, o Flamengo virou e antes que voltasse a marcar eu já estava dentro do ônibus voltando para Botafogo.

Essa foi minha maior experiência espiritual esportiva. Como dizia Nelson Rodrigues: “O brasileiro não existe sem a sua medalhinha de pescoço e, até aí, não se pode negar, todos nós temos lá nossas crenças e mandingas para fazer do nosso time o vencedor de todas as batalhas”.

Mas naquele dia, nenhuma medalhinha de pescoço, nenhuma oração, nenhum santo, nem ninguém, nem Deus foi capaz de conter o Flamengo. Foi então que acordei no dia seguinte como São Dom Bosco, que conta a história, visitou o inferno acompanhado de um anjo e teve sete visões.
Nem Deus foi capaz de fazer a Estrela Solitária brilhar

Ep. 2 - Um plano infalível

 Não demorou muito e precisei deixar a casa dos meus pais. Não sabia para onde ir ou a quem recorrer. Certo era que voltar a morar com eles ...