quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Um braço para lá de especial

Por muito tempo busquei olhar o céu do Brasil de uma forma especial. Contemplar as estrelas e os cosmos é parte da minha vida. Sempre que posso, e as nuvens permitem, olho para o céu noturno do hemisfério sul. Antes que me perguntem, respondo. Eu nunca comprei uma luneta para olhar melhor essa maravilha. O motivo? Não sei explicar. Gosto de tudo relacionado ao universo. E acredito que não passamos de poeira cósmica criada por algum ser muito superior. Neste caso, Deus.

Na chácara São Francisco, já consegui presenciar céus incríveis. Uma noite sem lua, com falta de energia em Alexânia (cidade a 10 km de distância), o céu realmente se despiu. Mas nunca foi o que eu buscava ou passou perto do que eu buscava. Eu buscava ver um pedaço do braço. Sim. Do braço da nossa Via Láctea. É sabido que nosso Sistema Solar orbita nossa galáxia na extremidade de um de seus braços em espiral. E estamos muito distantes do centro da Via Láctea. Muitos cientistas, aliás, acreditam que exista um buraco negro lá no meio. Mas isto ainda é motivo de discussão entre os cabeçudos. Eu vou me ater ao que vi.

No dia 25 de novembro de 2014, peguei um avião para João Pessoa, na Paraíba. Era para eu sair de Brasília às 23h50, mas a forte chuva adiou o voo por mais de uma hora. Paciência. Voamos então para Salvador, na Bahia, onde fizemos uma escala. De Salvador para João Pessoa atrasaram mais uma hora. Quase perdido no tempo, por conta dos atrasos, vi que ao sair de Salvador o relógio já passava das 3h da matina. A partir daí, contemplei o que esperei muito tempo para ver.

Após a decolagem, percebi que a rota a seguir ia perto da costa, mas sobre o Oceano Atlântico. Depois que as luzes de Salvador ficaram para traz, surgiu o toque de sorte. O piloto apagou todas as luzes do avião e as pessoas dormiram. Resultado: tudo escuro dentro e fora da aeronave. Perfeito. Eu estava sentado na poltrona 23F, longe das asas e, portanto, longe da luz emitida por elas. E eu estava posicionado para o lado do oceano. Não poderia perder a chance. Para completar a sorte, céu de brigadeiro.

Olhei para o lado e lá estava ele. O firmamento era facilmente identificado por conta da claridade emitida por milhares, talvez bilhares de estrelas. Quem poderia contar? Busquei a constelação do Cruzeiro do Sul para me localizar. Encontrei com dificuldade, pois nunca havia contemplado tantas estrelas no céu. Percebi que a cada segundo ele ficava para trás, seguindo para a calda do avião. Lembre-se que nosso destino era ao Norte.

Fiquei imaginando o que Edmond Halley viu ao mapear, em 1678, as estrelas do céu meridional. Imaginei também por quantas vezes essas estrelas salvaram a vida dos conquistadores, mostrando o caminho para o Novo Mundo e também para o triste massacre da cultura indígena da América. As estrelas são sempre um achado novo e velho. Olhar hoje para o céu é olhar para as estrelas em 1994, segundo especialistas. Isto porque a luz viaja muito para chegar aqui e, portanto, quando chega já se passaram quase 20 anos de sua emissão. E isto é fantástico.

Não vou me alongar mais. Estou publicando duas fotos que chegam perto do que eu vi na chácara São Francisco e no voo de Salvador para João Pessoa. A segunda, que mostra o braço da Via Láctea, chega mais perto do que vi lá de cima. Acho que será difícil repetir esse feito. Mas nós não sabemos os mistérios, os segredos e as surpresas que os cosmos nos preparam.

Esse vídeo é incrível e mostra o efeito que a rotação da Terra faz com o braço da Via Láctea no hemisfério sul.

2 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pelo magnífico e brilhante texto!
Gostei muito!!

Ederson Marques disse...

Vc é muito gentil Vandi... Obrigado

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