terça-feira, 26 de agosto de 2014

Canário, uma contradição incompreensível

É estranho não compreender as atitudes dos homens. Imaginem o quão terrível é, por exemplo, prender um Canário da Terra em uma gaiola por amá-lo e apreciar seu canto. De fato nunca compreendi a lógica disso. Tive, quando criança, dois periquitos australianos. Aqueles coloridinhos que você compra em qualquer casa rural. Quando morreram, chorei e me culpei por tê-los deixado preso a vida toda naquela gaiolinha. Nunca mais quis ter pássaros.

Muitos anos se passaram e meu contato com pássaros apenas diminuiu. No máximo via pombas urbanas e pardais pelas ruas de Brasília. Nada muito especial como quando era criança, ainda na fazenda onde um tio trabalhava e a gente via João de Barro, Rolinhas, Bem-Te-Vi, Tiziu, Pica-Pau, Araras, e outras tantas espécimes. Confesso que já não parava para escutar um canto, para ver a cor da plumagem, apreciar a natureza das aves.

A vida se resumiu a pombas urbanas e pardais. Até que meu pai comprou uma chácara em Goiás. No início, não havia muitos pássaros. Contam que os filhos do vizinho viviam com estilingues carregados para derrubar qualquer pássaro que ousasse sobrevoar a área. E realmente não ouvíamos muitos cantos por perto, apesar de estarmos dentro do cerrado. Estranho não?

Mas isso mudou. E é agora que entra a parte mais contraditória desta vida que às vezes não consigo compreender. Um compadre meu, o Rezende, é um amante de pássaros, principalmente de Canário da Terra. Desde criança, via em sua casa gaiolas com vários deles presos e cantando. Rezende sempre se orgulhou de seus canários. Com o passar dos anos, montou um grande viveiro em um cômodo de outra casa. Pela manhã, quando por lá dormia, acordava ao canto deles logo no romper da alvorada. Era diferente, pois como disse antes, a vida se resumiu a pombas urbanas e pardais.

Rezende, então, provou que a mesma mão que prende, liberta e preserva. Como? Ele pegou um casal de Canário da Terra e levou para a chácara. Iniciou-se, aí, um processo de reintegração na natureza de canários que antes estavam presos. Com a colocação dos canários, vieram as Rolinhas, o João de Barro, o Tucano, o Sabiá... A natureza voltou a ser ocupada por eles e meus ouvidos passaram a escutar sons que há tempos já tinham sido esquecidos.

Devemos agradecer sempre por aquilo que não compreendemos. Não fosse o Rezende, aquele mesmo que tinha pássaros presos em sua casa, não conseguiríamos repor aquilo que foi caçado pelo homem. Hoje, o amanhecer na Chácara São Francisco é calmo, sereno e com muito canto de pássaros. Como manda a Mãe Natureza.

Obrigado Rezendão

Pra você deixo essa música



Nenhum comentário:

Ep. 2 - Um plano infalível

 Não demorou muito e precisei deixar a casa dos meus pais. Não sabia para onde ir ou a quem recorrer. Certo era que voltar a morar com eles ...