Carioca é um ser diferente dos outros. A malandragem conhecida mundo afora, a alegria carnavalesca e o oportunismo imediato são características dos nascidos no Rio. Em época de carnaval, essas três “virtudes” se afloram e quem não ficar esperto leva uma “técnica comercial” de volta para casa.
Primeiro dia na Cidade Maravilhosa e o trajeto entre Botafogo e Ipanema, feito também pela famosa linha 175, foi prova de que deveria abrir bem os olhos. Ônibus lotado e o ponto de ônibus também. Eis que surge a linha sugerida por Gabriel, o pensador.
Eduardo e Renata entram correndo, enquanto Michelle e eu ficamos para trás. Entrego R$ 10 ao cobrador e ele me devolve troco de R$ 5. Tudo bem, pensei, em Brasília a passagem de ônibus também é cara.
No regalo do sol de Ipanema, tomando uma cerveja, pergunto ao nobre amigo carioca:
- Goiaba (apelido do Eduardo), quanto é a passagem aqui?
- R$ 2,10, por que?
- Porque fui roubado em R$ 0,80. O viado do cobrador me devolveu apenas R$ 5 de troco.
Sem papas na língua, Goiaba não perde tempo, solta uma gargalhada e diz: “Muleque, você é muito burro. Tem que ficar atento por aqui senão vão de roubar sem que perceba”.
Bola pra frente. Esperto às malandragens que poderiam aparecer no meu caminho, percebi que realmente o carioca tenta se aproveitar ao máximo dos gringos que lotam a cidade no carnaval. No dia seguinte, estávamos nós mais uma vez na parada esperando o 175. Desta vez, o destino era a Barra da Tijuca. Após a engabelada sofrida na mesma linha, Goiaba decidiu que sempre pagaria as quatro passagens de uma vez só.
Entramos e ao sentar vi uma cena inusitada. O ônibus pára em Copacabana e entra um gringo – não sei se argentino, uruguaio, chileno ou coisa parecida – e pergunta em um bom “portunhol” ao cobrador:
- Esta ônibus ya a barro Recreio? Estoy necessitado de chegar ao Recreio.
O cobrador manda o gringo entrar, pagar (é claro) e passar a roleta. Após todo o ritual, ele responde:
- Esse ônibus não vai não. Mas fique aí e quando chegar na Barra eu falo para você descer e pegar outro.
O gringo não questionou nada. Simplesmente esperou acontecer. A essa altura estava me perguntando quanto o gringo tinha pagado na passagem. Pelos meus cálculos, se eu – que falo bem o português – paguei R$ 2,50, ele deveria ter deixado pelo menos R$ 5 na mão do cobrador. E no Rio é assim. O cobrador cobra um pouquinho mais na passagem durante o dia e faz o carnaval durante a noite.
Mas essas histórias de malandragem não se limitam a ações de cobradores. Na entrada da Marquês da Sapucaí, com o tempo fechado, resolvemos comprar capas de chuvas. Precaução nunca é demais. Tinha uns 300 ambulantes vendendo as mesmas capas vagabundas pelos mesmos R$ 5 cada. Um bom comprador nunca se dá por vencido pelo primeiro preço cobrado. Então, resolvi negociar.
Chegamos a um dos cariocas e mandei logo um choro para que ele cobrasse mais barato. Tudo bem, no início foi difícil. O cara estava irredutível. Parecia a última capa de proteção ao Catrina. Eu não desisti e acabei conseguindo as quatro por R$ 16. Ou seja, cada uma por R$ 4.
Entreguei ao ambulante R$ 17. Para minha surpresa, ele solta um “morreu aqui, né”. Quem me conhece sabe que não abro mão nem de R$ 0,01. A Michelle, de vez em quando, prefere sair de perto para não ver a briga. Goiaba me viu “perder o tento” e iniciar uma discussão com o vendedor. Eu disse:
- O que é isso? Negocio R$ 16, te entrego R$ 17 e você me pergunta se morreu. Você está de sacanagem. Devolve meu troco porque preciso pagar o metrô de volta para casa.
Para minha surpresa, mais uma vez, ele não se entrega e responde a risos e naquele tom malandro do carioca:
- Que nada. Eu apenas estou de aplicando uma técnica comercial (para não dizer golpe). Você que nunca estudou isso.
O Goiaba deu outra gargalhada e saiu contando para Michelle e Renata o acontecido. Três episódios que exemplificam o jeito de ser do carioca: malandro, alegre e oportunista.
Primeiro dia na Cidade Maravilhosa e o trajeto entre Botafogo e Ipanema, feito também pela famosa linha 175, foi prova de que deveria abrir bem os olhos. Ônibus lotado e o ponto de ônibus também. Eis que surge a linha sugerida por Gabriel, o pensador.
Eduardo e Renata entram correndo, enquanto Michelle e eu ficamos para trás. Entrego R$ 10 ao cobrador e ele me devolve troco de R$ 5. Tudo bem, pensei, em Brasília a passagem de ônibus também é cara.
No regalo do sol de Ipanema, tomando uma cerveja, pergunto ao nobre amigo carioca:
- Goiaba (apelido do Eduardo), quanto é a passagem aqui?
- R$ 2,10, por que?
- Porque fui roubado em R$ 0,80. O viado do cobrador me devolveu apenas R$ 5 de troco.
Sem papas na língua, Goiaba não perde tempo, solta uma gargalhada e diz: “Muleque, você é muito burro. Tem que ficar atento por aqui senão vão de roubar sem que perceba”.
Bola pra frente. Esperto às malandragens que poderiam aparecer no meu caminho, percebi que realmente o carioca tenta se aproveitar ao máximo dos gringos que lotam a cidade no carnaval. No dia seguinte, estávamos nós mais uma vez na parada esperando o 175. Desta vez, o destino era a Barra da Tijuca. Após a engabelada sofrida na mesma linha, Goiaba decidiu que sempre pagaria as quatro passagens de uma vez só.
Entramos e ao sentar vi uma cena inusitada. O ônibus pára em Copacabana e entra um gringo – não sei se argentino, uruguaio, chileno ou coisa parecida – e pergunta em um bom “portunhol” ao cobrador:
- Esta ônibus ya a barro Recreio? Estoy necessitado de chegar ao Recreio.
O cobrador manda o gringo entrar, pagar (é claro) e passar a roleta. Após todo o ritual, ele responde:
- Esse ônibus não vai não. Mas fique aí e quando chegar na Barra eu falo para você descer e pegar outro.
O gringo não questionou nada. Simplesmente esperou acontecer. A essa altura estava me perguntando quanto o gringo tinha pagado na passagem. Pelos meus cálculos, se eu – que falo bem o português – paguei R$ 2,50, ele deveria ter deixado pelo menos R$ 5 na mão do cobrador. E no Rio é assim. O cobrador cobra um pouquinho mais na passagem durante o dia e faz o carnaval durante a noite.
Mas essas histórias de malandragem não se limitam a ações de cobradores. Na entrada da Marquês da Sapucaí, com o tempo fechado, resolvemos comprar capas de chuvas. Precaução nunca é demais. Tinha uns 300 ambulantes vendendo as mesmas capas vagabundas pelos mesmos R$ 5 cada. Um bom comprador nunca se dá por vencido pelo primeiro preço cobrado. Então, resolvi negociar.
Chegamos a um dos cariocas e mandei logo um choro para que ele cobrasse mais barato. Tudo bem, no início foi difícil. O cara estava irredutível. Parecia a última capa de proteção ao Catrina. Eu não desisti e acabei conseguindo as quatro por R$ 16. Ou seja, cada uma por R$ 4.
Entreguei ao ambulante R$ 17. Para minha surpresa, ele solta um “morreu aqui, né”. Quem me conhece sabe que não abro mão nem de R$ 0,01. A Michelle, de vez em quando, prefere sair de perto para não ver a briga. Goiaba me viu “perder o tento” e iniciar uma discussão com o vendedor. Eu disse:
- O que é isso? Negocio R$ 16, te entrego R$ 17 e você me pergunta se morreu. Você está de sacanagem. Devolve meu troco porque preciso pagar o metrô de volta para casa.
Para minha surpresa, mais uma vez, ele não se entrega e responde a risos e naquele tom malandro do carioca:
- Que nada. Eu apenas estou de aplicando uma técnica comercial (para não dizer golpe). Você que nunca estudou isso.
O Goiaba deu outra gargalhada e saiu contando para Michelle e Renata o acontecido. Três episódios que exemplificam o jeito de ser do carioca: malandro, alegre e oportunista.
Goiaba, carioca malandro, ficou rindo das minhas gafes no Rio
3 comentários:
Que absurdo fico danada. Destesto quando não me dão troco e pior nem satisfação.
Sacanagem desses cariocas... a tecnica comercial foi triste.... a passagem e as malandragens dos trocadores nem merece comentários. Pena que os honestos pagam por esses infelizes.... Mas tudo bem.... com a beleza daquela cidade não tem espertinho que acabe com o nosso humor!!!
Toooooooooooooooma distraído! É assim mesmo moleque... todo babaca tem a vida atribulada
Sem mais para o momento...
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