sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Vai minha águia guerreira

Sem exagero algum. Samba como o que ouvi e vi na Marquês da Sapucaí não tem igual no mundo. A festa é marcante, deslumbrante e, acima de tudo, empolgante. O carioca pode se vangloriar do carnaval que tem. O Brasil deve se orgulhar desse ritmo. Sempre fui crítico do carnaval brasileiro pelo fato de que as escolas de samba, nas décadas de 80 e 90, mostravam muito nudismo. Não sou hipócrita, mas acho que criar filhos com o que se mostra na TV é um desafio.

Carro abre-alas da Portela. "Vai minha águia guerreira".

As regras do carnaval no Rio mudaram. A escola que desfilar com um membro sequer com as partes íntimas de fora perde 0,5 ponto na apuração. Vale lembrar que em 2006 a Beija-Flor venceu o carnaval com apenas 0,1 ponto de diferença da Grande Rio. Esse ano foi com mais folga.

Aí, com meus pensamentos sobre o carnaval, bati na Sapucaí no domingo para ver São Clemente, Porto da Pedra, Portela, Salgueiro, Mangueira e Viradouro. Para minha alegria o que vi foi a maior festa popular do mundo ocorrer diante dos meus olhos. Milhares de pessoas em um mesmo local para escutar, cantar, dançar, espiar, aplaudir, vaiar...

Mas antes de chegar à Sapucaí vale um comentário. Putz! Como andamos para ter acesso ao setor 13 (popular). Descemos na estação do metrô da Central do Brasil. De lá, acho que caminhamos uns 3 km até chegar ao local estabelecido pelo ingresso. Além da andança, os esbarrões nos foliões eram inevitáveis. Uma passarela leva o folião até os acessos da Sapucaí. Nessa passarela – como aquelas que se tem sobre vias – o agito é total.

O que se escuta são carros tocando o samba enredo das escolas. Não se fala em mais nada. Os cochichos e os comentários são de que este ano não haveria fraude no carnaval do Rio. Em 2006, houve suspeita de que a Beija-Flor teria comprado jurados e, por isso, havia levado o titulo. Tudo bem, bola pra frente.

O preço por ingresso para o setor 13 foi de R$ 20. Em setores como o 5, 7 e 9, os ingressos começa a ser vendidos por R$ 300. Os cambistas estavam vendendo na hora por R$ 450. E a festa é a mesma.

Entramos antes que a São Clemente começasse a desfilar. Outro grande assalto que senti no bolso - além do cobrador que me levou R$ 0,80 no primeiro dia - foi o preço da cerveja dentro da Sapucaí. Enquanto Goiaba e eu comprávamos duas Skol por R$ 2,00 do lado de fora, dentro pagamos R$ 3,50 por unidade da NovaSchin. Meus Deus! Hoje, em Brasília, admito minha burrice. Nossa, R$ 3,50 em uma Schin. Onde tava com a cabeça?

Não sei. Mas sei que tinha gringo para toda parte que olhava. Uma, cheia de caipirinha na cabeça, parecia que estava louca, deslumbrada com tudo. Estava vestida com uma roupa feita por ela mesmo com uma bandeira do Brasil e sandálias também com as cores brasileiras. Parecia que estava realizando um sonho de infância. De tão louca, se deixou fotografar e ainda saiu contando vantagem para os amigos.

Desfile de escola de samba, para quem nunca viu na Sapucaí, parece tudo igual. As escolas, as baterias... o que muda, na TV, são as cores, as fantasias e os carros-alegóricos. Que nada, na Sapucaí se percebe tudo. A São Clemente, que foi a primeira a desfilar, fez uma apresentação fraca. Goiaba, bom entendedor da coisa, disse-me:

- Não sei se você vai ver a campeã do carnaval, mas a que vai rebaixar você está vendo agora.

Dito e feito. São Clemente rebaixou e, de fato, não vi a campeã Beija-Flor, que passou pela avenida na segunda-feira (neste dia, estávamos mortos e ficamos em casa vendo pela TV).

Com dizia, na Sapucaí tudo é diferente. Lá, você consegue distinguir o bom do ruim. A Portela estava linda e, por isso, foi tida como uma das candidatas ao título. A bateria da Viradouro dá show. Impossível ficar parado. Salgueiro foi demais com o samba sobre o próprio Rio e o carioca. Mangueira também é boa, mas não fez um bom desfile e mereceu o 10° lugar.

A chuva não deu trégua. Sorte a gente ter comprado as capas de chuvas e não ter tomado aquela técnica comercial do carioca. Ficamos secos a noite toda. Só com os tênis um pouco molhados, mas nada que atrapalhasse a festa.

Michelle não resistiu a todos os desfiles. Na hora da Viradouro, que terminou por volta das 6h30, ela já dormia. Mas estava um pouco gripada e isso derruba qualquer um. Foi guerreira em não chamar para ir embora antes do fim.

Na hora de voltar para casa, mais caminhada. Desta vez pior, pois estávamos exaustos. Posso dizer uma coisa. Enquanto as escolas estão desfilando, não há cansaço. No entanto, quando a bateria da última escola pára de tocar, parece que o mundo cai sobre sua cabeça. É algo indescritível.

Pegamos o metrô, mais uma vez na Central do Brasil, com o dia ainda escuro. Um cara dormiu em pé de tão cansado que estava. Figura demais. Quando descemos em Botafogo e saímos da estação, já estava claro. O sonho de ter uma cama quentinha, após uma noite de chuva, se tornara realidade. O despertar ficou para às 15h, quando fomos ao Pão de Açúcar. Mas essa é outra história.

2 comentários:

Paula Barros disse...

Gosto muito de ler histórias. Se reais melhor ainda. Se bem contada, nossa, maravilha. Com foto, incomparável.
Essa guerreira Michele foi demais realmente. É tão bonito o carinho que você fala dela.
Estarei esperando a história do Pão de Açucar, assim materei saudades.

Michelle Baião disse...

Sorte que você explicou que eu estava gripada. Puxa... gripe + chuva + frio não é mole, né... mas não dava para perder a Viradouro na sapucai :-) e com um colinho gostoso desse,a gente dorme em qualquer lugar! Mas confesso que o melhor mesmo foi a cama quentinha depois dessa madrugada na Sapucai.Eu te amo meu escritor d blog.

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