quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Madrugada de um pseudo-detetive escritor do futuro

Um stradivarius tem quatro cordas e um som inconfundível. Ele também oferece quatro oportunidades e uma série de lembranças, algumas suaves e outras brutais. Com esse estalo na memória, comecei a rever o Xangô de Baker Street pela madrugada. Em cada cena, lembrei-me dos tempos de faculdade e de cada folha vencida do romance rabiscado por Jô Soares. E sorrisos me acompanhavam com as deduções do então brilhante detetive Sherlock Holmes e as “coisices” do Dr. Watson.

Imaginem que, lá pelas 2 horas da madrugada, eu já começava a tramar aventuras e situações que levassem o detetive britânico a gastar boa parte de seus neurônios para tentar descobrir o que seria meio óbvio aos olhos de um bom brasileiro. E aí os delírios começaram.

Havia uma moça muita bela, cheia de virtudes e destemida, adorada por todos que a cercavam. Essa moça tinha uma voz encantadora, um sorriso largo e falava quatro idiomas fluentemente, o que facilitava sua comunicação em todos os recintos que frequentava. De cabelos lisos, cor de mel, olhos castanhos e pele rosada, não passava despercebida. No entanto, apesar de todas as suas qualidades e beleza, sofria por causa do machismo enraizado na sociedade.

Holmes, galanteador como suponho deveria ser, não pode deixar de se encantar por esta moça logo no primeiro encontro dos dois. O perfume adocicado da bela mulher o deixara tão arrebatado que momentaneamente perdera quatro dos cinco sentidos humanos. Nesta hora, apenas o olfato lhe dominava e o fazia lembrar dos dias quentes em um café às margens do Rio Sena no verão parisiense. A fragrância lhe era familiar, mas o nome lhe fugia à memória toda vez que tentava recordar. Holmes só voltava de seu êxtase quando Watson o cutucava com sua bengala de marfim.

Nesses devaneios, pensei que a tal moça escondia em meio a sua radiante luz um pouco de trevas, que em determinados momentos a dominava. E nesses momentos, a encantadora poderia tramar e executar planos tão mirabolantes que dariam calafrios até mesmo em João Grilo, o maior arquiteto de mentiras que já existiu em terras tupiniquim. Mas quem desconfiaria dela? Quem poderia acusa-la de algo nocivo? Quem teria a audácia de suspeitar de uma criatura?

Eu só consegui pensar em uma pessoa: Dr. Watson. O médico tende a ser, por si só, mais racional e menos propício aos dispersos sentimentos. Apenas Watson suspeitaria que de um corpo tão incrivelmente talhado pelo Criador saltariam forças tão obscuras. Ele também imaginaria que uma pessoa que dominava quatro idiomas tinha intelecto suficiente para ludibriar toda uma sociedade.

Antes de dormir, porém, imaginei algumas boas situações em que esse trio poderia se esbarrar. Sempre tendo a virtuosa moça como a executora de tramas impossíveis de serem descobertas por Holmes, que vivia enfeitiçado pela beleza e cheiro de tal graciosidade. Holmes seria, então, presa fácil. A única solução seria colocar Watson como o salvador de tudo, mesmo que os louros ficassem sob a renomada fama de Holmes. Ainda voltarei a escrever sobre esse trio. Ah, eu volto!

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