terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Acabou-se. Só restou dentadas

A psicologia canina, se é que existe isso, parece ter dado um nó em minha cabeça. Vocês conhecem as histórias e peripécias de Calvin e Zizou, nossos dois JRTs que gostam de aprontar. Pois bem. Se a amizade entre eles era uma esperança para Calvin se socializar, acabou-se. Os dois não se batem mais. Mais que isso: querem se matar, ao que parece. É dentada para todo lado. Juntos, agora, só em fotografias. Daquelas que serão vistas daqui a anos e surgirão comentários: "Como eram amigos. Até sei lá quem fazer sei lá o que com o outro".

Não sei dizer quem começou ou porque começou. Certo é que a guerra agora é aberta e não existe mais alvo civis ou militares. Vale tudo. Meu cunhado ganhou uma fêmea de JRT, a Lalai. Até então, uma oportunidade para Zizou conhecer outra criatura dócil e sapeca. Saí de casa a pé para a visita, que ocorreu na noite passada. Depois de mais ou menos 1,5 km cheguei ao destino. Peguei o elevador e logo estava de frente para a porta da discórdia.

Toc, toc, toc... Após não ser atendido, toquei a campainha. Pléééééé!!! Algo arranhou a porta na parte inferior. Calvin percebera a presença de Zizou e se preparou. Para evitar um ataque frontal, peguei Zizou no colo e a porta se abriu. Os saltos do Calvin já mostravam a vontade que ele estava de massacrar. Levantei mais alto para que ele não alcançasse as patas de Zizou. Sem sucesso. Calvin achou o rabo de Zizou e lascou a dentada, ficando por alguns segundos pendurados até que eu desse um tapa nele. O sangue mostrou a gravidade do ataque. Demoramos uns 5 minutos para estancar.

Ferido, Zizou tentou de toda forma descer para revidar aquela mordida. Arrepiou-se todo e tentava se soltar das minhas mãos a dentadas também. Fiquei marcado com isso. Minha cunhada pegou Calvin e o trancou no primeiro cômodo que viu. Ali ficou constatado que entre Calvin e Zizou tudo se acabou. Não resta mais nada. Apenas dentes para lá e dentes para cá.

Ah, e sobre a Lalai... É uma criatura danada, agitada, dócil e também gosta de morder. Talvez pelos dentes ainda serem de leite – ela só tem 60 dias – as mordidas são necessárias. Zizou brincou com ela e não mais viu Calvin na noite. Triste saber que agora ou tenho que estar com Zizou ou com Calvin. Os dois juntos, só em fotografias.

Calvin e Lalai brincando. Falta Zizou, mas isso agora é impossível.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Um braço para lá de especial

Por muito tempo busquei olhar o céu do Brasil de uma forma especial. Contemplar as estrelas e os cosmos é parte da minha vida. Sempre que posso, e as nuvens permitem, olho para o céu noturno do hemisfério sul. Antes que me perguntem, respondo. Eu nunca comprei uma luneta para olhar melhor essa maravilha. O motivo? Não sei explicar. Gosto de tudo relacionado ao universo. E acredito que não passamos de poeira cósmica criada por algum ser muito superior. Neste caso, Deus.

Na chácara São Francisco, já consegui presenciar céus incríveis. Uma noite sem lua, com falta de energia em Alexânia (cidade a 10 km de distância), o céu realmente se despiu. Mas nunca foi o que eu buscava ou passou perto do que eu buscava. Eu buscava ver um pedaço do braço. Sim. Do braço da nossa Via Láctea. É sabido que nosso Sistema Solar orbita nossa galáxia na extremidade de um de seus braços em espiral. E estamos muito distantes do centro da Via Láctea. Muitos cientistas, aliás, acreditam que exista um buraco negro lá no meio. Mas isto ainda é motivo de discussão entre os cabeçudos. Eu vou me ater ao que vi.

No dia 25 de novembro de 2014, peguei um avião para João Pessoa, na Paraíba. Era para eu sair de Brasília às 23h50, mas a forte chuva adiou o voo por mais de uma hora. Paciência. Voamos então para Salvador, na Bahia, onde fizemos uma escala. De Salvador para João Pessoa atrasaram mais uma hora. Quase perdido no tempo, por conta dos atrasos, vi que ao sair de Salvador o relógio já passava das 3h da matina. A partir daí, contemplei o que esperei muito tempo para ver.

Após a decolagem, percebi que a rota a seguir ia perto da costa, mas sobre o Oceano Atlântico. Depois que as luzes de Salvador ficaram para traz, surgiu o toque de sorte. O piloto apagou todas as luzes do avião e as pessoas dormiram. Resultado: tudo escuro dentro e fora da aeronave. Perfeito. Eu estava sentado na poltrona 23F, longe das asas e, portanto, longe da luz emitida por elas. E eu estava posicionado para o lado do oceano. Não poderia perder a chance. Para completar a sorte, céu de brigadeiro.

Olhei para o lado e lá estava ele. O firmamento era facilmente identificado por conta da claridade emitida por milhares, talvez bilhares de estrelas. Quem poderia contar? Busquei a constelação do Cruzeiro do Sul para me localizar. Encontrei com dificuldade, pois nunca havia contemplado tantas estrelas no céu. Percebi que a cada segundo ele ficava para trás, seguindo para a calda do avião. Lembre-se que nosso destino era ao Norte.

Fiquei imaginando o que Edmond Halley viu ao mapear, em 1678, as estrelas do céu meridional. Imaginei também por quantas vezes essas estrelas salvaram a vida dos conquistadores, mostrando o caminho para o Novo Mundo e também para o triste massacre da cultura indígena da América. As estrelas são sempre um achado novo e velho. Olhar hoje para o céu é olhar para as estrelas em 1994, segundo especialistas. Isto porque a luz viaja muito para chegar aqui e, portanto, quando chega já se passaram quase 20 anos de sua emissão. E isto é fantástico.

Não vou me alongar mais. Estou publicando duas fotos que chegam perto do que eu vi na chácara São Francisco e no voo de Salvador para João Pessoa. A segunda, que mostra o braço da Via Láctea, chega mais perto do que vi lá de cima. Acho que será difícil repetir esse feito. Mas nós não sabemos os mistérios, os segredos e as surpresas que os cosmos nos preparam.

Esse vídeo é incrível e mostra o efeito que a rotação da Terra faz com o braço da Via Láctea no hemisfério sul.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Canário, uma contradição incompreensível

É estranho não compreender as atitudes dos homens. Imaginem o quão terrível é, por exemplo, prender um Canário da Terra em uma gaiola por amá-lo e apreciar seu canto. De fato nunca compreendi a lógica disso. Tive, quando criança, dois periquitos australianos. Aqueles coloridinhos que você compra em qualquer casa rural. Quando morreram, chorei e me culpei por tê-los deixado preso a vida toda naquela gaiolinha. Nunca mais quis ter pássaros.

Muitos anos se passaram e meu contato com pássaros apenas diminuiu. No máximo via pombas urbanas e pardais pelas ruas de Brasília. Nada muito especial como quando era criança, ainda na fazenda onde um tio trabalhava e a gente via João de Barro, Rolinhas, Bem-Te-Vi, Tiziu, Pica-Pau, Araras, e outras tantas espécimes. Confesso que já não parava para escutar um canto, para ver a cor da plumagem, apreciar a natureza das aves.

A vida se resumiu a pombas urbanas e pardais. Até que meu pai comprou uma chácara em Goiás. No início, não havia muitos pássaros. Contam que os filhos do vizinho viviam com estilingues carregados para derrubar qualquer pássaro que ousasse sobrevoar a área. E realmente não ouvíamos muitos cantos por perto, apesar de estarmos dentro do cerrado. Estranho não?

Mas isso mudou. E é agora que entra a parte mais contraditória desta vida que às vezes não consigo compreender. Um compadre meu, o Rezende, é um amante de pássaros, principalmente de Canário da Terra. Desde criança, via em sua casa gaiolas com vários deles presos e cantando. Rezende sempre se orgulhou de seus canários. Com o passar dos anos, montou um grande viveiro em um cômodo de outra casa. Pela manhã, quando por lá dormia, acordava ao canto deles logo no romper da alvorada. Era diferente, pois como disse antes, a vida se resumiu a pombas urbanas e pardais.

Rezende, então, provou que a mesma mão que prende, liberta e preserva. Como? Ele pegou um casal de Canário da Terra e levou para a chácara. Iniciou-se, aí, um processo de reintegração na natureza de canários que antes estavam presos. Com a colocação dos canários, vieram as Rolinhas, o João de Barro, o Tucano, o Sabiá... A natureza voltou a ser ocupada por eles e meus ouvidos passaram a escutar sons que há tempos já tinham sido esquecidos.

Devemos agradecer sempre por aquilo que não compreendemos. Não fosse o Rezende, aquele mesmo que tinha pássaros presos em sua casa, não conseguiríamos repor aquilo que foi caçado pelo homem. Hoje, o amanhecer na Chácara São Francisco é calmo, sereno e com muito canto de pássaros. Como manda a Mãe Natureza.

Obrigado Rezendão

Pra você deixo essa música



Ep. 2 - Um plano infalível

 Não demorou muito e precisei deixar a casa dos meus pais. Não sabia para onde ir ou a quem recorrer. Certo era que voltar a morar com eles ...